Colocar Limites

O Tatu (Armadillo) é um bichinho um pouco invulgar, pelo menos aqui por Portugal, pois este apenas existe no continente americano. Usa uma armadura de couro nas costas, sempre que ele precisa de se defender fecha-se sobre si mesmo e nada, mas mesmo nada, o penetra.

armadillo

O Tatu defende o seu território sem grande dificuldade. O mesmo já não acontece com os humanos… Quantos de nós acreditamos que não podemos dizer “não”? Quantos de nós dizemos “não” quando queremos dizer “sim”?

O Tatu ensina-nos pela sua fisiologia, que está tudo bem em colocar limites, em protegermos-nos daquilo que não queremos. A pele do Tatu, dura no exterior, é uma armadura contra tudo o que possa ser uma ameaça. Mas o seu interior é como uma esponja que tudo absorve, macia, gentil, acolhedora e vulnerável.

Parece que ao olhar para as características deste bichinho podemos vislumbrar o jogo dos opostos a acontecer. Pelo exterior, uma armadura que tudo protege e pelo interior uma pele macia que tudo acolhe.

Este arquétipo ensina-nos a sabedoria de nos fecharmos, protegidos por uma armadura assim como nos ensina a sabedoria de nos abrirmos ao toque carinhoso e macio da vida. Esta é uma sabedoria de quem respeita o seu espaço, de quem se protege sem deixar de acolher o outro; é a sabedoria de quem conhece os seus limites.

E nós humanos, onde perdemos a nossa capacidade de fazer respeitar o nosso espaço e os nossos limites?

Quem sabe algures na nossa infância, acreditámos que, se negássemos um pedido de alguém, seriamos rejeitados, ou que deixaríamos de ser amados. Não colocar limites ao outro pode vir da crença que, para sermos amados, teríamos de ceder, fazer o que o outro quer; ou que de outra forma ficaríamos excluídos, deixados desamparados. Mas será isto verdade?

Quantas vezes, pelo medo do abandono ou da rejeição, dizemos “sim”, quando queremos dizer “não”?

Quantas vezes dizemos “não” por não confiar, com medo ser deixado depois?

Quantas vezes isto acontece sem sequer nos darmos conta?

Ambos os “sim’s” e os “não’s” são mentiras contadas a nós mesmos, para nos proteger de algo que ainda não aconteceu, mas que já se repetiu no passado.

Quando se diz “sim” a tudo, sem respeitar o nosso sentir, colocamos-nos em risco ser invadidos, porque acabamos por fazer tudo o que o outro quer. Por acreditarmos que não podemos dizer “não”, corremos o risco de nos tornar-nos capachos, “pau para todo o serviço” e ter a porta aberta a tudo e todos, sujeitando-nos a tudo o que vier pela frente.

Este género de pessoa absorve tudo à sua volta, absorve emoções e pesos que não são seus (tomando-os como seus). Este género de pessoa, muitas vezes, entra num local público e absorve como uma esponja tudo o que lá se encontra.

Quando dizemos “não” a tudo, criamos uma armadura invencível, que nos protege de tudo (seja bom ou mau) e vivemos fechados em nós mesmos, intangíveis, protegidos por muralhas construídas à nossa volta. Essa sensação de segurança é falsa, pois vivemos com fantasmas na nossa cabeça, perdendo a oportunidade de nos conectarmos com o outro e com a vida.

É possível que tenhamos vivido uma destas “histórias” e o mais provável é que tenhamos vivido ambas as “histórias”:

Pode ter havido uma altura da vida em que nos cansámos de dizer “sim” e gritámos um “não” e fugimos para dentro de uma redoma, prometendo que iríamos fazer diferente, que não iríamos nunca mais ser invadidos.

Pode ter havido uma altura da vida em que nos cansámos de lutar, e depois de tantos “não’s”, pousámos a espada e sucumbimos a tudo o que o outro queria, invadidos no nosso íntimo, porque nos sentimos profundamente sozinhos.

E o mais certo foi que, ao corrermos para o oposto, tenhamos encontrado mais do mesmo! Solidão!

tatau

O Tatu lembra-nos que existe uma terceira opção, que podemos encontrar um caminho no meio, entre os opostos. Podemos escolher de acordo com o que realmente queremos para nós, sem medo de ficar só e sem medo de ser invadido.

O Arquétipo do Tatu convida-nos a escolher o que queremos acolher na nossa vida. Podemos dizer sim à vida, sim ao contacto com o mundo, sem nos abrirmos demasiado, nem nos fecharmos demasiado. Podemos usar a armadura que nos protege e ao mesmo tempo abrir o nosso interior ao outro e mostrar o que sentimos, permitindo-nos sentir vulnerabilidade.

Existe um ponto de integração entre o “sim” e o “não” que passa por nos abrirmos a respeitar o que queremos, sem atacar e sem estar na defensiva, sem portas escancaradas e sem muralhas… sem extremos.

Para isso precisamos encontrar o lugar de equilíbrio, que reflita o respeito por nós mesmos, pelas nossas necessidades e vontades, um espaço em que conhecemos os nossos limites e limitações e respeitamos quem somos. Nesse espaço, quer digamos “sim” ou “não”, somos sempre amados, nunca ficamos sozinhos; pois nesse espaço está refletido o nosso amor por nós mesmos.

Exercício para acolher o TATU:

Escolha consciente e ponderadamente a quê diz “sim” na sua vida. Desenhe um círculo numa folha lisa e coloque lá dentro aquilo a quê diz “sim”.

Pode dividir este exercício por temas diferentes na sua vida e colocar no cabeçalho “relacionamentos” ou “trabalho” ou ainda mais específico “a minha relação com a pessoa X” ou “o projecto Y”.

No centro do círculo coloque tudo a que diz sim, tudo a que está aberto na sua vida. No centro do círculo coloque ainda o seu nome.

No exterior do círculo coloque aquilo que está disposto a experimentar, dentro do que é razoável e necessário.

De tempos a tempos revisite este desenho, pode pintá-lo ou ornamentá-lo, ver quais as dificuldades que tem em manifestar estes “sim’s”, meditar nele, senti-lo!

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