Os Arquétipos Femininos
Ao longo do ano solar, a nossa postura, o nosso ritmo interno vai-se alterando, atendendo aos convites que a natureza nos faz.
Mas mais que isso, para nós mulheres a coisa é mais profunda. O nosso ciclo menstrual tem uma correspondência com as estações do ano, da dança da Mãe-Terra com o Pai-Sol e da fluidez das marés que sobem e descem, que moldam os ritmos das nossas hormonas e fluxos internos e emocionais.
O nosso ciclo interno permite-nos viver a natureza dentro de nós mesmas, como se, a pequena escala (mais rápida no tempo), no espaço de uma lua, vivêssemos todas as estações do ano dentro de nós. É uma viagem que é possível fazer, se assim o desejarmos, conectando-nos com a sabedoria do ciclo menstrual, conectamos-nos com a natureza, com os ritmos da própria Mãe-Terra. Somos Mãe-terra, em pequena escala.
O nosso ciclo começa com a menstruação, assim como o Inverno é o começo de um ano novo. No nosso inverno interno existe uma necessidade de maior recolhimento e descanso, como que entrássemos em hibernação, mergulhando em sonhos e insights profundos, viajando a outros mundos, outras épocas, ligando-nos com o nosso inconsciente colectivo e as nossas ancestrais. Este é o arquétipo da Anciã e está ligado com a lua nova.
Com o despertar do sono, acordamos da hibernação retemperadas e entramos numa fase de expansão e de energia, em que nos sentimos aventureiras, radiantes, como tivéssemos um sol interno que nos inspira. Essa é a nossa Primavera. Existe um foco, uma direção, um bem estar enérgico para a criação de novos projectos e de novas ideias. Este é o arquétipo da Jovem ou Virgem e corresponde à adolescência e ao quarto crescente.
Com a ovulação tornamos-nos mais maternais, mais receptivas ao outro e a nossa sexualidade desponta como os frutos de verão prontos a serem saboreados. E o que é o óvulo senão um fruto maduro. Nesta altura do mês a partilha, a alegria, a compaixão expandem-nos como os longos dias de sol. Este é o arquétipo da Mãe e corresponde à mulher adulta e à lua cheia.
Com o avançar do Outono a Mãe-Terra prepara-se para a morte e convida-nos a viver essa morte, através do apodrecer dos frutos, do cair da folha, assim como o cair da noite, cada vez mais cedo.
Esta é a altura do ano em que tradicionalmente estamos mais conectados com os ancestrais, vividas através de festejos de Samhain (Halloween) ou dos finados e todos os santos, a escuridão fria de Novembro e inícios de Dezembro, que nos pede para sentir.
Esta fase do nosso ciclo lunar, correspondente ao Outono e ao quarto minguante, está ligada com a mulher que entra na menopausa, altura em que a sua energia criativa e sexual se vira para dentro, onde ela começa a descobrir a sua sabedoria e a desenvolver a sua espiritualidade de uma forma mais profunda.
Este é o arquétipo da Bruxa!
Estudos demonstram que o hemisfério direito do cérebro, correspondente ao nosso lado mais intuitivo, está mais activo nas fases pré-menstrual e menstrual e existe uma maior ligação entre ambos os hemisférios. Nesta fase de pré-menstruação e nesta altura do ano existe uma vaga de informação que nos atravessa, como se o véu entre o consciente e o inconsciente se tornasse fino, tornamos-nos mais intuitivas, temos sonhos mais vividos, desejos mais intensos e emoções mais profundas. Temos mais facilidade em chorar, estamos mais emotivas.
Nesta fase, no nosso Outono interno, existe uma oscilação na energia do nosso corpo, oscilação do nosso apetite sexual e, no geral, estamos mais intolerantes ao corre corre do mundo. Estamos naturalmente mais reflexivas, sobre o que corre ou não corre bem nas nossas vidas. O que nos surge nesta escuta interna da nossa intuição é matéria prima vinda da nossa psique, sobre as nossas crenças e frustrações e é informação muito importante para as nossas vidas. Não surgem do nada os nossos rompantes, são dragões que saem da gruta, em que tudo se torna mais vivido, mais transparente, se estivermos atentas para ouvir.
Quando não valorizamos o nosso lado intuitivo, não respeitamos as necessidades que o corpo nos mostra, estamos a perder uma oportunidade de ouro, para olhar para os vários aspectos da nossa vida que queremos mudar. Nesta fase introspectiva somos chamadas a parar para ouvir desejos intímos não concretizados, a parar para descobrir e transformar áreas mais dolorosas da nossa vida.
Quanto mais desligadas estamos do nosso corpo feminino mais tensões pré-menstruais temos, e quando não paramos um pouco para olhar, ouvir e descobrir, os orgãos gritam sobre a forma de dor, as emoções tornam-se em fúria e a frustração impera.
Fica o convite para nos recolhermos, neste Outono que avança. Respeitemos as oscilações do tempo, entre chuva e sol, que são como as oscilações de energia do nosso próprio corpo e as oscilações das nossas vontades.
Aceitemos que a menstruação é um sistema poderoso de auto-regulação do nosso lado instintivo e selvagem, é uma força, se for posta em marcha. Abraçar o arquétipo da bruxa é como uma meditação activa, de escuta e respeito pelo corpo, de afinamento da nossa intuição. Viver o arquétipo da Bruxa é empoderarmo-nos da nossa ligação xamânica com o mundo, é expressar a totalidade do nosso feminino, abraçando a nossa capacidade de cura e de transmutação e força geradora e regeneradora de tudo; nossa e das mulheres que nos rodeiam. É abraçar a morte para alcançar a vida e viver para além da dualidade, enquanto criadoras da nosso mundo.
Aceitemos as folhas que se vão desprendendo das nossas árvores, deixemos ir os frutos que vão apodrecendo, deixemos que chova dos nossos olhos.