No Xamanismo tudo é sagrado, cada pequeno pedaço do universo está conectado com todas as criaturas e deve ser honrado. Tudo se forma pela teia da avó aranha que interrelaciona tudo, liga tudo pelos seus fios, criando o mundo, o universo, o Grande Mistério.
A Roda de Medicina é a tradução, a transposição para um círculo, dessas relações visíveis e invisíveis entre tudo o que É, entre tudo o que existe. A Roda de Medicina, também chamada de Roda de Cura é uma das bases do meu trabalho. Nela estão contidas possibilidades quase infinitas de trabalho, pelas pontes e comunicações que se fazem entre os seus vários pontos que a constituem. A Roda de medicina contém a vida em si mesma.
A Roda ensina-nos que toda a vida está interrelacionada, e que todas as coisas vivas têm um propósito divino e ocupam igual lugar no círculo, como um todo; e o Ser humano é parte desse todo, não está acima dele, ele faz parte da roda. Na Roda de Medicina podemos ver reflectidos os elementos, estações do ano, os ciclos das plantas e animais e ainda fases e aspectos da vida humana.
As Rodas de Medicina construídas com pedras em locais sagrados dos indígenas Norte-Americanos, reúnem as energias dos animais, as energias das pedras, a Mãe-Terra, o Pai-Céu, o Avô Sol, Avó Lua, a Nação das Estrelas, os 4 ventos, as pessoas em pé (Standing Trees) ou árvores, os de duas pernas (humanos) os Irmãos e Irmãs das Estrelas, os Seres Trovão e etc.
Porém, existem Rodas de Medicina, ou Rodas de Cura um pouco por todo o mundo. Os círculos de pedra também se encontram em Portugal, e como arqueóloga que fui, tive a oportunidade de conhecer e de sentir esses locais sagrados de Norte a Sul.
Roda de Medicina de Bighorn – Wyoming (EUA)
Sou uma contínua estudiosa da roda. Existe um manancial infinito em olhar para a ciclicidade da natureza. Não me prendo apenas a uma tradição, sigo o meu sentir, a minha abordagem é um sistema aberto de conhecimento.
A Roda de Medicina é a roda da vida que gira e não tem princípio nem fim. A Roda de Cura reflete a vida a acontecer, a repetir-se e a reinventar-se, a nascer, a morrer e a renascer, dentro e fora de nós. As 4 direções cardinais refletem as 4 estações, que se repetem em círculo, correspondendo cada um a 4 elementos, que também existem dentro de nós.
Somos emoção, energia do elemento Água que se move (do latim e-movere) e flui nos rios e mares dentro e fora de nós, somos seiva de plantas como todas as terminações do nosso sistema nervoso. As rochas que fazem o solo também fazem o nosso corpo, por entre os minerais dos nossos ossos e são o elemento Terra. Somos Ar que aviva as nossas células. Somos Fogo que nos inspira a criar, a fazer e a amar. E como o mundo à nossa volta tem os seus ciclos, também nós somos animais cíclicos. E todos têm lugar na Roda de Medicina.
As 4 direções cardinais (Este, Sul, Oeste e Norte) contêm nelas a relação/dança com o Avô Sol, que fazem as estações do ano e as 4 fases da Avó Lua. Estão ligadas aos ritos de passagem, que tanto acontecem ao longo da vida (nascimento, crescimento, idade adulta, velhice), como se manifestam em cada lição, em cada desafio e aprendizagem no nosso dia-a-dia. Ainda nas 4 direções os diferentes aspectos da vida, humana e não só, desde a criança interior, ao adulto que olha para dentro da sua própria caverna, aos ancestrais que nos ensinaram a orar, ao fogo criativo de onde tudo nasce.
Para além das 4 direções cardinais existem mais 3 direções xamânicas, que falam da nossa conexão com a Terra e com as Estrelas, cujo ponto do meio, o ponto que intermedeia é o centro, a centelha divina, o fogo interno, o coração.
“Enquanto Caminhas na Terra sagrada,
trata que cada passo seja uma oração”
Black Elk
Somos parte da Terra, da dança da Terra com o Sol, onde nada se perde e tudo se transforma. Somos Espírito a experimentar-se, parte integrante do grande Espírito, que través dessa experimentação cresce e expande, em sabedoria.
A Roda de Medicina está viva, sempre a rodar e a trazer novas lições e novas verdades no nosso caminho na Terra, no nosso “Earth Walk”. E como é circular, não tem fim e continuamente nos traz nossas possibilidades de aprendizagem.
Somos parte do Todo, não estamos separados. Somos Espírito que veio experimentar uma vida de dualidade e separação.