Quando digo sim à vida, é impossível escolher dizer sim apenas a metade da vida, apenas a um quarto da vida…
Quando olho para o meu corpo sou inteira, não posso apenas ficar com partes. Ou melhor, poder posso, algumas pelo menos, mas aí algo estaria coxo, falho ou dificultado de alguma forma. Já não seria inteira.
Então porque negamos partes da nossa origem? Negar partes de nós é ficarmos presos ao que devia ter sido, reclamar que tivesse sido de outra forma, presos à criança, que quer as suas necessidades supridas e é dependente de algo externo.
E como sabes as crianças fazem birras, quando as vontades não são atendidas.
Quando olho para a vida, vejo que sou o resultado de tudo o que veio antes, os meus antepassados.
Claro que eles não foram perfeitos, foram apenas humanos.
Ao abraçar cada um deles, a cada dia, também me abraço a mim mesma, na minha humanidade, com tudo o que a vida implica, de bom e de mau, com o que gosto e não gosto.
Quero tomar a vida por inteiro, dizer sim à vida é almejar a compreensão da humanidade de quem veio antes de mim e me deu origem, sejam eles erros e condicionamentos ou alegrias e dons.
Porque ao ver as suas dificuldades, as suas dúvidas, os seus erros, os seus conflitos posso abraçar as minhas próprias dificuldades e compreender as dores que vivem em mim.
E compreender é o primeiro passo para transformar e encontrar quem sou, para além deles.
Se apenas um deles não tivesse existido eu não estaria aqui. Pois se não houver raízes não há caule, nem folhas nem frutos. E eu sou um fruto.
Sou eles todos e sou apenas eu. Mas apenas consigo ser eu mesma, se tomar a vida que eles me deram.
Eles continuam vivos, que nem pó de estrelas a expandir-se, através de mim. O que faço com isso depende única e exclusivamente de mim, pois já não sou criança.
Ponho-me nos seus sapatos e tento compreender, a cada dia que passa, no ritmo que posso, com a minha própria miopia e no tempo que posso. Procuro não deixar pedaço nenhum pelo caminho, para me amar por inteiro, pois eu própria sou a mistura única de todos eles.
Tomo a vida que me deram e a vida que continua, e amo-me mais e sinto-me mais viva ainda.
E tenho força para fazer à minha maneira.
Este é o caminho de honrar quem veio antes, ser fruto de uma árvore que já existe há muito tempo. Essa árvore dá a vida!
Dizer sim à vida é dizer sim às coisas boas e menos boas, que nos foram dadas. Tomar a vida é abrir o coração a tudo o que já existia e existe antes de nós, para transformar e encontrar quem somos, para além disso.